quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Oficina de Produção Textual Centro de Ensino Manoel Beckman


Os Artigos de Opinião, aqui publicados, são resultado de oficinas de produção textual, realizadas ao longo de três anos, pela professora Maria Ribamar Silva, que acompanha e orienta seus alunos desde a 1ª série do ensino médio, desenvolvendo nesses alunos uma postura crítica diante de situações e acontecimentos sociais, históricos, políticos e afetivos. Nessas oficinas, bem como nos horários regulares de sala de aula, os alunos da Professora Silva investigam, pesquisam, discutem e aprendem a ouvir e respeitar opiniões divergentes, fatores  que contribuem  para uma manifestação mais consciente da linguagem.


Oficina Produção Textual - slide show


Aluna: Arcuíres de Sousa Guajajara– 3ª série
Tema: O lugar onde vivo
Título: O outro rumo do vento
Acredito que um dia todo mundo queira cantar sua terra. Hoje, “eu também vou cantar a minha”. Como era bom sentir o vento ameno da minha, São Luís do Mará. Como era bom respirar um ar sem impurezas e tão necessário à vida. O vento que aqui soprava percorria livremente, e por quilômetros, nossas praias, becos e ruas, provocando pequenas folhas que respondiam a seu toque. E,nesse cenário, como era bom ouviro  canto dos inúmeros pássaros que aqui habitavam. Mas tudo isso era antes da prática desumana do desmatamento que visa apenas ao lucro fácil.
Hoje, São Luís é um vasto canteiro de obras que não permitem integração coma natureza. É como se, para se construir, houvesse a necessidade de se retirar todo e qualquer recurso natural do meio do caminho, verdadeiros nichos ecológicos: fontes de água natural, árvores nativas e frutíferas, manguezais, córregos, igarapés e outros. A Ilha emana o concreto por todos os lados. Não há jardins nem áreas verdes preservadas. Nenhum parque ou bosque que sirva de espaço de convívio e lazer. Até as praças, antes arborizadas, tiveram sua arborização substituída por monumentos e bancos de concreto, que inviabilizam o usufruto desses espaços durante o dia, em função do atual calor escaldante. É como se a brisa de antes tivesse mudado de direção.
Entretanto, muitos acham que a cidade está melhor. Concordo. Melhor para aqueles que podem pagar para sair daqui e desfrutar da natureza preservada, respeitada e valorizada de outras cidades, estados ou países. Para a maioria da população torna-se cada dia mais difícil o contato com nossas riquezas naturais.Isso porque os rios estão assoreados, as praias, impróprias para o banho, e a única lagoa da cidade transformou-se em depósito de excrementos de toda natureza. Os ludovicenses não costumamos reagir diante de ações atrozes cometidas regularmente. E esse comodismo tem contribuído para aumentar o índice de desastres ecológicos na Ilha dos Amores. 
Confesso me sentir, às vezes, devendo algo para o turista que nos prestigia. Então, o que fazer e como fazer para melhorar o lugar em que vivo? Nem sei se conseguiremos salvar o pouco que nos resta, se é que ainda nos resta alguma coisa. Apenas sei que as ações de agora serão as respostas do amanhã. Por isso, quanto mais cedo houver envolvimento consciente dessa responsabilidade de cuidar bem da nossa terra, mais rapidamente acredito que teremos o retorno do vento suave e o agradável canto de alguns pássaros, pois muitas espécies infelizmente já foramextintas.

Aluna: Iolanda Barbosa Silva – Turma 301
Tema: O lugar onde vivo
Título: Vitimada pelo descaso

São Luís, uma cidade assim como outra qualquer, porém centro maranhense das atenções, por ser a capital do estado. Podemos dizer que o ludovicense seja privilegiado em alguns aspectos e prejudicado em outros. Isto porque, ao mesmo tempo em que nos proporciona paisagens naturais espetaculares e manifestações culturais alegres e diversificadas, deixa muito a desejar nos aspectos político e socioeconômico.
Minha cidade poderia ser melhor em termos de infraestrutura, educação e saúde. Entretanto, em função das constantes inoperâncias administrativas de que é vítima, contribui bastante para que o Maranhão esteja incluso entre os estados mais pobres do país. Pobre na educação, o que se constitui um paradoxo, visto que, por séculos, São Luís fora conhecida como a Atenas brasileira. Hoje, no ranking nacional na área da educação ocupa um dos últimos lugares. Na área da saúde, há pouquíssimo investimento, tanto na estrutura dos hospitais quanto na acessibilidade aos serviços precários que esses oferecem. Enquanto isso, investimentos no setor imobiliário, sem algum projeto de sustentabilidade, ganham cada vez mais espaço, ocupando áreas de preservação ambiental, agredindo dessa maneira o ecossistema da Ilha dos Amores.
Apesar de não ser o Rio de Janeiro, a Jamaica brasileira é uma cidade maravilhosa. Apresenta casarões coloniais e uma rica história e cultura como legado dos nossos colonizadores. Além também de oferecer lindas praias como atração turística. No entanto, estamos impossibilitados de usufruir dessas belezas naturais, em virtude de elas servirem de caminho para o esgoto inatura que é despejado no mar.
Assim, nossa cidade, nos seus quatrocentos anos, acumula problemas antigos e que parecem irreversíveis. Quem sabe a solução desses problemas somente aconteça a partir do momento em que não mais nos sintamos coagidos a reagir. Ou talvez desapareçam quando deixarmos de ignorar o que se mostra claramente estampado em nosso entorno: o descaso dos sequentes administradores deste lugar.

Aluna: Sarah Melo Teixeira – Turma: 202
Tema: O lugar onde vivo
Título: Sempre na lembrança
Como qualquer outro lugar do mundo, o lugar em que vivo tem seu lado positivo e negativo. Dona de uma simplicidade que encanta desde os moradores aos de passagem. São Luís é um lugar de muitas praias e de muita riqueza cultural. E, por isso, recebeu o título de Patrimônio Histórico da Humanidade, principalmente por ter belos casarões em seu centro histórico, construídos na época da escravidão, quando os portugueses aqui habitavam.
No entanto, o grande problema da minha cidade é a falta de cuidado que os administradores demonstram para com ela. Nestes seus quatrocentos anos, São Luís infelizmente não vem sendo tratada como deveria. Assim, ao invés de Patrimônio da Humanidade, alguns já preferem chamá-la de “cidade do abandono”. Talvez porque tenha suas ruas e avenidas repletas de buracos. Inclusive os pontos turísticos, que deveriam ser bem cuidados, hoje servem também de abrigo para dezenas de mendigos e moradores de rua.
Outro de seus maiores encantos, as praias, estas se encontram inapropriadas para o banho. Rios assoreados e manguezais aterrados. Penso eu que São Luís sofre realmentecom essa situação de descaso. E, quando digo isso, não me refiro apenas à ação de descaso de seus administradores, mas ao descaso que nós praticamos, ao assistirmos a tudo isso de braços cruzados, inertes aos acontecimentos.
Portanto, da cidade que nos seus quatrocentos anos deveria ser sinônimo de progresso, a impressão que tenho é a de que parou no tempo em vários aspectos. Mas, apesar desta situação de abandono, ainda continuo amando minha cidade. Um lugar que, pelo menos por enquanto, dele não pretendo me distanciar.